Carta a um devoto do Coração Imaculado de Maria
Estimado senhor: acabo de receber
sua estimadíssima carta, com que me pede que diga alguma coisa para crescer
cada dia mais e mais na devoção do Imaculado Coração de Maria. Querido amigo,
não podia pedir-me coisa melhor, do que mais gosto. Eu gostaria que todos os
cristãos tivessem fome e sede desta devoção. Ame, amigo meu, ame e ame
muitíssimo a Maria (1).
E para que possa aumentar em
pontos a sua devoção e satisfazer seus desejos, lhe direi que devemos amar
Maria Santíssima: primeiro, porque Deus o quer. Em segundo lugar, porque ela o merece.
E em terceiro, porque nós precisamos, por ser ela um poderosíssimo meio para
obter todas as graças corporais e espirituais e finalmente, a salvação eterna
(2).
1. Deus o quer
Devemos amar Maria Santíssima
porque Deus o quer. Amar é querer bem ao amado, é fazer-lhe bem, é fazer-lhe
participante de seus bens (3), pois o mesmo Deus nos dá exemplo e nos excita a
amar Maria. O eterno Pai a escolheu por Filha sua muito amada; o Filho eterno a
tomou por Mãe e o Espírito Santo, por Esposa; toda a Santíssima Trindade a
coroou como Rainha e Imperatriz dos céus e terra e a constituiu dispensadora de
todas as graças (4).
Você deve saber, amigo meu, que
Maria Santíssima é obra de Deus e é a mais perfeita que saiu de suas mãos
depois da humanidade de Jesus Cristo; nela brilham de um modo particular (5) a
onipotência, a sabedoria e a bondade do mesmo Deus.
É próprio de Deus dar as graças
necessárias a cada criatura, segundo a finalidade a que a destina (6) e como
Deus destinou Maria para ser a mãe, filha e esposa do mesmo Deus e mãe do
homem, daqui se imagina que tipo de coração lhe daria e com que graças a
adornaria (7).
2. Ela o merece
Devemos amar Maria Santíssima
porque ela o merece. Maria Santíssima o merece pelo acúmulo de graças que
recebeu sobre a terra, pela eminência da glória que possui no céu, pela
dignidade quase infinita da Mãe de Deus a que tem sido sublimada e pelas
prerrogativas próprias desta sublime dignidade.
Maria foi como o centro de todas
as graças e belezas que Deus tinha distribuído aos anjos, aos santos e a todas
as criaturas (8). Maria tinha que ser Rainha e Senhora dos anjos e dos santos
e, por isto mesmo, devia ter mais graças que todos eles, já no primeiro
instante do seu ser. Maria tinha de ser a Mãe do mesmo Deus. É um princípio de
filosofia que entre a forma e as disposições da matéria deve existir certa
proporção (9); a dignidade de Mãe de Deus é aqui como a forma e o coração de
Maria é a matéria que deve receber esta forma. Oh! Que acúmulo de graças,
virtudes e outras disposições se agrupam naquele santíssimo e puríssimo
coração!
Desde que Deus determinou
fazer-se homem, fixou a vista em Maria Santíssima e desde então dispôs todos os
preparativos necessários, a fez nascer dos patriarcas, profetas, sacerdotes e
reis (10), e todas as graças destes reuniu em Maria e quis que Maria fosse a
nata e a flor de todos eles. Ainda, a preparou com bênçãos de doçura e colocou
sobre sua cabeça uma coroa de pedras preciosas (11), isto é, graças e belezas;
mas muito mais enriqueceu seu coração.
No Coração de Maria devem ser
consideradas duas coisas: o coração material e o coração formal, que é o amor e
vontade (12).
O coração material de Maria é o
órgão, sentido ou instrumento do amor e vontade (13); assim como pelos olhos
vemos, pelos ouvidos ouvimos, pelo nariz cheiramos e pela boca falamos, assim
pelo coração amamos e queremos (14).
Dizem os teólogos que as
relíquias dos santos merecem veneração e culto: 1º porque foram membros vivos
de Jesus Cristo. 2º porque foram templos do Espírito Santo. 3º porque foram
órgãos da virtude. 4º porque serão instrumentos da graça e de milagres. 5º
porque eles serão glorificados depois da ressurreição (15).
O coração de Maria reúne estas
propriedades e muitas outras:
1º O coração de Maria não só foi membro vivo de
Jesus Cristo pela fé e pela caridade, mas também origem, manancial de onde se
tomou a humanidade (16).
2º O coração de Maria foi templo do Espírito Santo e
mais que templo, pois do preciosíssimo sangue saído deste imaculado (17)
coração o Espírito Santo formou a humanidade santíssima nas puríssimas e
virginais entranhas de Maria no grande mistério da encarnação (18).
3º O
coração de Maria foi o órgão de todas as virtudes em grau heróico e
singularmente na caridade para com Deus e para com os homens (19).
4º O coração
de Maria é um coração vivo, animado e sublimado no mais alto da glória.
5º O
coração de Maria é o trono de onde se dispensam todas as graças e
misericórdias.
Maria é verdadeiramente Mãe de
Deus. Do mesmo modo como uma mulher, que deu à luz um homem, é chamada e é mãe
daquele homem, assim também Maria Santíssima é e se chama, com toda
propriedade, Mãe de Deus, porque o concebeu e o deu à luz; a mulher que deu à
luz o homem se chama e é mãe daquele homem, que é um composto de alma e corpo e
embora a alma venha somente de Deus, assim também Maria Santíssima é Mãe de
Deus, porque este divino composto de pessoa divina, alma racional e corpo
natural é o termo da geração nas puríssimas e virginais entranhas de Maria
(20). Esta dignidade de Mãe de Deus é a que mais a enaltece, porque é uma
dignidade quase infinita, porque é mãe de um ser infinito (21); é mais de
quanto possui em graça e em glória. Os Doutores e Santos Padres dizem que pelos
frutos se conhece a árvore, segundo consta no Evangelho; pois, que diremos de
Maria, que deu à luz aquele bendito Fruto que tanto elogiou Isabel (22) quando
disse: “Bendito o fruto do teu ventre! De onde me vem tanta honra, que a mãe do
meu Senhor venha a mim?” (23).
Diz Santo Tomás que o fogo não
pega na lenha até que esta tenha os mesmos graus de calor que aquele (24); pois
bem, se para que do sangue do coração de Maria se formasse a humanidade à qual
se devia juntar a divindade era preciso que tivesse uma disposição quase
divina, que diremos agora de Maria se, além de ser considerada Mãe de Deus,
juntamos as demais graças que depois recebeu de Jesus? (25). Jesus por onde
passava fazia o bem a todos (26), mais ou menos segundo a disposição com que os
encontrava; que pensaremos das graças e benefícios que dispensaria a Maria, em
quem passou não rapidamente, mas que esteve em suas entranhas por nove meses e
a seu lado por trinta e três anos, e achando-se sempre com as melhores
disposições e preparação para receber os benefícios de Jesus? A estas graças
devem juntar-se também as que recebeu do Espírito Santo no dia de Pentecostes
e, além disso, devem ser acrescentadas as que ela conseguiu com o exercício de
tantas e tão heróicas virtudes em todo o decurso da sua santíssima e longa
vida, acompanhada daquela contínua e fervorosa meditação (27) em que, segundo o
profeta, se acende a chama do divino amor (28). Ao considerar São Boaventura a
graça de Maria, exclama dizendo: “A graça de Maria é uma graça imensa,
múltipla”: Gratia Mariae, gratia est immensissima, gratia multiplicissima (29).
Não só devem ser consideradas as
graças que Maria obteve para ser e por ter sido Mãe de Deus e as graças que
recebeu de Jesus Cristo, do Espírito Santo e ela conseguiu com sua cooperação,
mas também é indispensável fixar a atenção na multidão de incomparáveis
prerrogativas que tão grande dignidade lhe tem dirigido. Faremos referência a
algumas:
1ª De ter sido preservada do
pecado original, ao qual estaria sujeita se não tivesse sido destinada para ser
Mãe do mesmo Deus; para isto, Deus a dotou de um coração imaculado, puríssimo,
castíssimo, humilíssimo, mansíssimo, santíssimo, pois do sangue saído deste
coração formou o corpo do Deus feito homem.
2ª De ter concebido e dado à luz
no tempo aquele mesmo Filho de Deus que o eterno Pai havia gerado na eternidade
(30). Não duvide, diz São Boaventura, o eterno Pai e a Virgem sagrada tiveram
um mesmo e único filho (31).
3ª Assim como o eterno Pai teve
este divino Filho sem perder nada da sua divindade, assim também a santíssima
Virgem Maria concebeu e deu à luz este mesmíssimo Filho sem o menor detrimento
da sua santíssima virgindade.
4ª De ter tido um legítimo poder
para mandar no Senhor absoluto de todas as criaturas, pois este é um direito
que a natureza dá a todas as mães; direito ao qual quis sujeitar-se com gosto,
pois disse que tinha vindo não para derrogar a lei, mas para cumpri-la com mais
perfeição que os demais homens (32); e o evangelista São Lucas nos dá
testemunho de como obedecia a sua Mãe e a São José: Et erat subditus eis (33).
Mas este direito é uma honra a Maria Santíssima, que São Bernardo diz que não
sabe o que é mais digno de admiração, se Jesus obedecer a Maria ou Maria mandar
em Jesus; porque, diz o Santo, que Deus obedeça a uma mulher é uma humildade
única e que uma mulher mande em um Deus é uma elevação sem igual (34).
5ª Ter sido a esposa do Espírito
Santo de uma maneira infinitamente mais nobre que outras virgens, pois, as
outras somente merecem ser aliadas a este divino esposo quanto à alma, enquanto
que Maria tem sido não só quanto à alma, mas também quanto ao corpo, embora da
maneira mais casta. A aliança que existiu entre o Espírito Santo e as virgens
castas só tem servido para a produção dos atos de virtudes, mas a aliança entre
este divino Espírito e Maria Santíssima tem produzido de uma maneira inefável o
Senhor das virtudes, Cristo Senhor Nosso.
6ª Tem sido como o termo, por assim
dizer, e a coroação da Santíssima Trindade: Maria universum sanctae Trinitatis
complementum (35), porque produziu o mais excelente fruto da sua fecundidade ad
extra, como dizem os teólogos; quer dizer, produziu um Deus homem. Maria
produziu um sujeito capaz de dar à Santíssima Trindade uma honra tal como a
Santíssima Trindade merece; honra que todas as criaturas juntas, e mesmo estas
se multiplicando muitíssimas vezes, não eram capazes de pagar como o faz o
Filho de Maria, Deus e homem verdadeiro.
7ª Em ter sido feita Rainha e
Senhora de todas as criaturas por ter concebido e dado à luz o Verbo divino,
por quem foram feitas todas as coisas, como diz São João (36).
3. Eficácia desta devoção
Devemos amar Maria e ser seus
verdadeiros devotos porque a devoção a Maria Santíssima é um meio poderosíssimo
para alcançar a salvação. É a razão pela qual Maria pode salvar seus
verdadeiros devotos, porque quer e porque o faz (37). Maria pode, porque é a
porta do céu; Maria quer, porque é a mãe de misericórdia (38); Maria o faz,
porque ela é a que obtém a graça justificante aos pecadores, o fervor aos
justos e a perseverança aos fervorosos (39); por isto, os Santos Padres a chamam
de resgatadora dos cativos, o canal da graça e a dispensadora das misericórdias
(40). Por isto se disse que o ser devoto de Maria é um sinal de predestinação,
assim como é uma marca de reprovação o não ser devoto ou adversário de Maria
(41).
A razão é muito clara. Ninguém
pode salvar-se sem o auxílio da graça que vem de Jesus, como cabeça que é da
Igreja ou corpo, e Maria é (42) como o pescoço que junta, por assim dizer, o
corpo com a cabeça; e assim como o influxo da cabeça no corpo deve passar pelo pescoço,
assim, pois, as graças de Jesus passam por Maria e se comunicam com o corpo ou
com os devotos, que são seus membros vivos: In Christo fuit plenitudo gratiae
sicut in capite fluente; in Maria sicut in collo transfundente (43).
Maria pelos Santos Padres é
chamada escada do céu, porque por meio de Maria Deus desceu do céu e por meio
de Maria os homens sobem ao céu (44). E quando a Igreja diz que esta Rainha
incomparável á a porta do céu e a janela do paraíso (45), nos ensina com estas
palavras que todos os eleitos, justos ou pecadores, entram na mansão da glória
por seu intermédio; com esta única diferença, que os justos entram por ela como
pela porta diretamente, mas os pecadores pela janela (46), que é Maria; pela
escada, que é Maria (47).
Portanto, amigo meu, em Maria, depois de Jesus,
devemos colocar toda nossa confiança e esperança da nossa eterna salvação. Haec
peccatorum scala, haec mea maxima fiducia est, haec tota ratio spei meae (48).
Unica peccatorum advocata, portus tutissimus, naufragantium omnium salus (49).
Peccatorem quantumlibet foetidum non horret... donec horrendo Judici miserum
reconciliet (50).
Oh! Feliz é aquele que invoca
Maria com confiança, pois alcançará o perdão dos seus pecados, por muitos e por
graves que sejam; alcançará a graça e, finalmente, a glória do céu, que tanto
desejo a você e a todos.
Notas:
|
Santo Antônio Maria Clare |
(*) O título completo é:
Carta a
um devoto do puríssimo e imaculado Coração de Maria. O original autografado se
encontra em Mss. Claret, VIII, 521
‑535. Deste original se fizeram as
seguintes edições: Carta inédita do Beato Claret sobre o Coração de Maria:
Boletim Secretariado Claretiano, janeiro-março 1940, n. 67
‑69 pp.
2
‑4;
Carta inédita do Beato Pe. Claret sobre o Coração de Maria: Iris de Paz 56 (1942) 1157
‑1158
49
‑50
(assim a numeração do tomo); Carta a um devoto do
imaculado Coração de Maria: Boletim interno da
Prov. da Catalunha CMF, número extra, 67
‑69,
julho
‑setembro
1949, pp. 47
‑52; Carta a um devoto do puríssimo
e imaculado Coração de Maria em Santo Antônio
Maria Claret, Escritos autobiográficos e espirituais (BAC, Madrid 1959) pp. 766
‑772;
Lozano, J. M.,O Coração de Maria em Santo Antônio Maria Claret (Ed. Coculsa, Madrid 1963) pp. 223
‑239;
Gil, J. M., Epistolário de Santo Antônio Maria Claret (Ed. Coculsa, Madrid 1970) vol. 2 pp. 1497
‑1506
(edição crítica);
No centenário de Santo Antônio
Maria Claret, apóstolo da devoção ao imaculado Coração de
Maria; texto íntegro de uma carta de Santo Antônio Maria Claret sobre o amor que devemos a Maria Santíssima:
Cruzado Espanhol 13 (1970) 167
‑168.
* 1 Não sabemos quem fez esta
petição ao Santo. Talvez uma das muitas pessoas dirigidas por Claret ou talvez
um dos seus missionários. O certo é que o Santo aproveita a petição para
escrever um breve tratado sobre a devoção ao Coração de Maria. “Você não podia
pedir coisa melhor”, diz a seu destinatário. Aqui se vê uma vez mais, a in
tensa devoção mariana do Padre Claret, que o acompanhou por toda a vida, desde
a infância (cf Aut. n. 43‑55) até
sua morte (cf Obsequio 1870 Claret, Escritos autobiográficos [BAC Madrid 1981]
pp. 587‑588). Sobre sua devoção
cordimariana cf Viñas, J. M., A devoção ao Coração de Maria
segundo os ensinamentos do Beato Padre Claret: Bol. Prov. Catalunha CMF 11
(1949) 201‑225; Tisnés, R. M.,
Santo Antônio Maria Claret e Coração de Maria: Bol. Prov. Colômbia CMF 9 (1952)
44‑61.191‑203.255‑268;
Ramos, C., Um apóstolo de Maria (Barcelona 1954)
368 págs.; Lozano, J. M., O Coração de Maria em Santo Antônio
Maria Claret (Madrid 1963) 286 págs.;
Leghisa, A., O Coração de Maria e a Congregação no momento atual (Roma 1978) 62
págs.
*2 Cf. Ducos, J.‑Ch.,
Le pasteur apostolique (Paris 1861) t. 1 p. 438. Claret toma a estrutura da
carta deste autor e o segue de perto na redação
de alguns parágrafos.
*3 Cf. Santo Tomás,Summa theol. 2‑2
q. 23 a. 1c.
*4 No original autografado, o Pe.
Claret cancelou a frase seguinte: «A fim de que nós a amemos e a ela acudamos
sempre» (Mss. Claret, VIII, 522). Este parágrafo, que fala das relações da
Virgem com a Santíssima Trindade, tomou também de Ducos (o. c., p. 438). Já em
outras ocasiões o Santo tinha indicado esta mesma doutrina (cf.Carta pastoral
sobre a Imaculada [Santiago de Cuba 1855] pp. 3, 5 y 37; O colegial instruído
[LR, Barcelona 1861] t. 2 p. 501).
*5 No original autografado
“partar”.
*6 Cf Santo Tomás, Summa theol. 3
q. 27 a. 4c. Na segunda edição do opúsculo claretiano Tardes de verão na real
Chácara de Santo Ildefonso chamado A Granja (LR, Barcelona 1865, p. 121) se
lêem estas palavras: «É regra geral que, quando Deus escolhe uma criatura
racional para uma dignidade singular ou para um estado sublime, lhe dá todos os
carismas de graça que à dignidade ou estado de dita pessoa são necessários e
convenientes a seu esplendor» (São Bernardino de Sena, Sermo 10 a. 2 c. 1:
Opera [Venetiis 1591] t. 3 p. 118 col. 2). Citado por Santo Alfonso Maria de
Ligorio, As glórias de Maria (Barcelona 1870) pp. 197‑198.
*7 Claret vê a filiação mariana,
sobretudo, através do Coração de Maria, que encerra dois aspectos principais:
um amoroso e outro militante. Maria é a Mãe do Amor Formoso (cf. Aut. n. 447;
Religiosas em suas casas [Barcelona 1850] p. 147): “Mãe do Amor Formoso...,
concedei a todos os justos este divino amor; vo-lo rogo pelo amor que Deus vos
tem” (ib., p. 155). O Coração de Maria é “frágua e instrumento do amor” (Aut.
n. 447) e representa toda a vida interior da Virgem Maria, sendo habitação e
paraíso de Deus (cf. Religiosas em suas casas, ed. cit. p. 105), centro de suas
recordações e meditações (cf. A colegial instruída [Madrid 1864] pp. 423‑424)
e cópia exata do Coração
de Jesus (Mss. Claret, VIII, 501: “O Coração de Maria é a cópia mais exata do Coração de Jesus”. Mas o Coração de Maria
é, ainda, manancial de força apostólica. Assim o viu na
Arquiconfraria do Coração de Maria por ter lido e por experiência própria.
“Ontem, escreve a D. Caixal, no dia 2 de agosto de 1847, fundamos a
Arquiconfraria do Coração de Maria. Agora vamos continuar a novena. Já fiz e dá
fruto. Muita gente assistiu a função. São muitas as paróquias que a pedem” (EC,
I, pp. 234). E poucos dias depois, no dia 12 de agosto, lhe diz: “Quisera que
se fizesse correr pela terra e por toda a Espanha a novena ao Coração de Maria”
(EC, I, p. 236). O mesmo adjetivo imaculado, com que designa sempre o Coração
de Maria, indica o aspecto apostólico e militante desta devoção, como sucede ao
falar da Imaculada. Tanto o aspecto amoroso como o militante os tem presentes,
sobretudo, quando comenta o nome de Filhos do Imaculado Coração de Maria dado a
seus missionários (cf. Aut. n. 492‑494; Viñas,
J. M., art. cit., pp. 201‑225).
*8 Cf. Ducos, J.‑Ch.,
o. c., pp. 438‑439.
*9 Cf. Santo Tomás, Summa theol.
3 q. 27 a. 5.
*10 Cf. Claret, Tardes de verão,
ed. cit., p. 173.
*11 Cf. Sal 20, 4.
*12 Cf. Gallifet, J. De l’excellence de la
dévotion au Coeur adorable de Jésus‑Christ (Paris 1861) t. 1 p. 46ss;
Mss. Claret, VIII, 502.
*13 Cf. Gallifet, J., o. c. pp. 264ss.
*14 Cf. Castiglione, L., Il Cuore di Maria
aperto a tutti (Napoli 1850) p. 4, Mss. Claret, VIII, 502.
*15 «Se veneramos as relíquias
dos santos, quanto mais o Coração de Maria! Que relíquia tão insigne!» (Mss.
Claret, VIII, 503). Este mesmo argumento utilizavam São João Eudes e o P.
Gallifet (o. c., p. 75).
*16 Devido ao influxo de
Gallifet, o coração como órgão material ocupa aqui o primeiro plano, no
entanto, Claret insiste quase sempre no coração espiritual e no que ele
significa e representa.
*17 No original autografado, o
Santo cancelou a palavra “puríssimo” e escreveu encima “imaculado”.
*18 Os escritores espirituais
indicaram com freqüência as relações existentes entre o Coração de Maria e a
encarnação do Verbo. M. Agreda fala das três gotas de sangue do Coração de
Maria com as que as três pessoas da Trindade formaram o corpo do Senhor (cf.
Mística cidade de Deus, LR [Barcelona 1860] t. 3 p. 239). A isto alude São João
de Ávila em um sermão sobre a Assunção (cf. Obras completas, BAC [Madrid 1970]
t. 3 p. 168). Caetano havia combatido esta teoria, chamando-a «erro novo
nascido em nossos dias». O Padre Claret tinha feito alusão a esta opinião no
Catecismo explicado (Barcelona 1849, p. 69). Em 1864, ao ser submetido o
Catecismo único à censura de Roma, o censor pediu que se tirasse a menção das
três gotas de sangue, fundando-se no comentário de Caetano a Santo Tomás (q. 31
a. 6). O Santo suprimiu o lugar citado pelo censor e achou dois argumentos que
o convenceram: o ser contrário à Sagrada Escritura e à maternidade divina de
Maria, marcando à margem ditas passagens (cf. Summa theologica cum Commentariis
Thomae de Vio Cardinalis Caietani [Roma 1773] t. 7 p. 401. Ex libris). Desde
então nas edições do Catecismo se suprimiu esta menção e o Santo corrigiu o
texto desta carta, acrescentando as palavras “saída” e “nas entranhas de
Maria”. Isto nos permite datara a Carta a um devoto do puríssimo e imaculado
Coração de Maria, que foi redigida não muito antes de abril de 1864, data em
que recebeu a censura romana do Catecismo (cf. Fernández, C., O Beato Antônio
Maria Claret [Madrid 1946] t. 2 p. 547).
*19 Cf. Gallifet, J., o. c., p. 264ss.
*20 Cf. Claret, Tardes de verão,
ed. cit., p. 123; Santo Tomás, Summa theol. 3 q. 35 a. 4c.
*21 Cf. Santo Tomás de Vilanova,
Sermão 3 para a Natividade dede Nossa Senhora: Obras, BAC (Madrid 1952) p. 203.
Afirmações parecidas se encontram em São Bernardino, São Boaventura e Suarez
(cf. Santo Alfonso Maria de Ligorio, As glórias de Maria [Barcelona 1870] pp.
332‑334).
*22 No original autografado,
cancela, “que exclamou Santa Isabel”.
*23 Lc 1, 42. Claret toma este
parágrafo quase literalmente de Ducos, J.‑Ch., o. c., p. 440.
*24 Cf.Summa Theol. 3 q. 27 a. 5 ad 2. O
exemplo de Santo Tomás se refere à preparação da Virgem Maria para a
maternidade divina.
*25 Cf. Santo Tomás, ib.
*26 Cf. Atos 10, 38.
*27 Cf. Lc 2, 19: Maria...
conservava todas estas coisas dentro de si, meditando-as em seu coração. Texto
marcado com um traço marginal no exemplar do Novo Testamento de Torres Amat.
*28 Cf. Sal 39, 4. Frase
freqüentemente citada por Claret ao falar da oração.
*29 O manuscrito autografado cita
o Speculum c. 1. Se refere ao Speculum Beatae Mariae Virginis, atribuído hoje a
Conrado de Saxônia (cf. Bibliotheca Franciscana Medii Aevi [Quaracchi 1904] t.
2 introd. p. 9.127).
*30 A doutrina sobre estas
prerrogativas de Maria, de 2 a 7, as toma de Ducos, J.‑CH.,
o. c., pp. 441‑442.
*31 Cf. Speculum Beatae Mariae
Virginis c. 6 p. 83. realmente, a frase citada por Conrado de Saxônia é de São
Bernardo (Sermo 2 de Annuntiatione n. 2: PL 183, 391: Obras completas, BAC
[Madrid 1953] t. l, p. 666).
*32 Cf. Mt 5, 17.
*33 Lc 2, 51: E lhes estava
sujeito. Texto marcado no Novo Testamento de Torres Amat.
*34 Cf. Homil. 1 super “Missus
est” n. 7ss: PL 183, 59ss: Obras completas, BAC, ed. cit., t. 1 p. 190.
*35 Hesíquio de Jerusalém, Homil.
2 de Beata Virgine:PG 93, 1461. Claret cita esta frase em seu livro Tardes de
verão (ed. cit., p. 133). Leu em Ducos, J.‑Ch., o. c., p. 442, n. 2.
O sentido da frase não é o
que tradicionalmente lhe deram os autores espirituais. A palavra complementum,
que responde à palavra grega pléroma, não significa no contexto de Hesíquio
complemento, mas morada, habitação.
*36 Cf. Jo 1, 3.
*37 Cf. Ducos, J ‑Ch.,
o. c., p. 444.
*38 Cf. São Bernardo, Sermo 1 de
Assumptione n. 1: Obras completas, BAC, ed. cit., t. 1 p. 703.
*39 Cf. Speculum Beatae Mariae
Virginis, c. 6.
*40 Claret cancelou “graças” e
escreveu encima “misericórdias”. Estas frases as toma também de Ducos, J.‑Ch.,
o. c., p. 42.
*41 Cf. ib., p. 443.
*42 “pescoço” apagado. Depois
escreveu “como o pescoço”.
*43 O manuscrito autografado,
copiando Ducos, cita São Jerônimo. Refere ao texto tradicional da Carta a Paula
e Eustóquio sobre a Assunção (PL 30, 16ss), que hoje se atribui a Pascásio
Radberto. Realmente, este autor não chama a Virgem Maria pescoço do Corpo
místico. O primeiro que o disse foi Ubertino de Casale comentando as palavras
do Pseudo‑Jerônimo (cf. Arbor vitae
crucifixae); cf. São Pedro Damião, Sermo 46: PL 144,753; Santo Agustinho, Sermo 123 n. 2: PL
39,1991; De praedestinatione sanctorum 15 31: PL 44,982‑983; São Fulgêncio, Sermo 36: PL 65, 899. Também se acha esta idéia em
Germano de Tournai, que afirma: «Collum
inter caput et corpus medium est, caputque iungit corpori. Collum ergo sanctae
Ecclesiae competenter Domina nostra intelligitur quae, inter Deum et homines
Mediatrix existens, dum Dei Verbum incarnatum genuit, quasi caput corpori,
Christum Ecclesiae, divinitatemque humanitati nostrae coniunxit» (Tractatus de
Incarnatione Christi 8: PL 180, 30). Aparece também com nitidez em São
Bernardino de Sena, que diz: «Sicut per collum spiritus vitales a capite
diffunduntur per corpus: sic per virginem a capite Christo vitales gratiae in
eius mysticum corpus, et specialius in amicos atque devotos, continue
transfunduntur» (Sermo 5 de Nativ. B. M. V. c. 8).
*44 Cf. o hino Ave, maris
stella... felix caeli porta; São Bernardo, In vigilia Nativit. Domini. sermo 3
n. 10 (PL 183, 100): «Nada quis Deus que não passasse pelas mãos de Maria»
(Obras completas, BAC, ed. cit., t. 1 p. 247).
*45 São Pedro Damião, Sermo 46:
PL 144, 753: «fenestra caeli, ianua paradisi..., scala caelestis», São
Bernardo, In Nat. B. M. V. sermo de aquaeductu n. 7 (PL 183, 441): «scala
peccatorum» (Obras completas, BAC, ed. cit., t. 1 p. 741).
*46 No original autografado
escreveu: “escalando pela penitência”, frase que depois apagou.
*47 Cf. Ducos, J.‑Ch.,
o. c., p. 443. Recordemos que o Pe. Claret tinha escrito um opúsculo intitulado A escada de Jacó e
porta do céu, ou, súplicas
a Maria Santíssima (Barcelona 1846) 32 págs.
*48 São Bernardo, Sermo de
nativitate de aquaeductu n. 7: Obras completas, BAC, ed. cit., t. 1 p. 741:
«Esta é a escada dos pecadores, esta é minha maior confiança, esta é toda a
ração da minha esperança».
*49 Santo Efrém, Sermo de
laudibus Beatae Virginis: «Ela é a única advogada dos pecadores, porto muito
seguro e salvação de todos os náufragos».
*50 «Não se horroriza com o
pecador, embora esteja fedendo..., contanto que possa reconciliá-lo com o
tremendo juiz» (São Bernardo,In deprecat. ad B. Virg.). Citado por Ducos, J.‑Ch.,
o. c., t. 1 p. 443 nt. 3).
NOTA: Este opúsculo claretiano
foi publicado no volume: Santo Antônio Maria Claret, Escritos Espirituais (BAC,
Madrid 1985) pp. 496‑506; e em: Santo Antônio
Maria Claret, Escritos Marianos (Publicaciones Claretianas, Madrid 1989) pp.
382‑292.